CAPÍTULO I . TÊXTEIS ESTAMPADOS
Ajrakh Block Print
Ajrakh: o magnífico tecido de Sindh e de Kutch.
ERA UMA VEZ...
Havia um rei de Sindh (hoje, no Paquistão), que costumava dormir todas as noites em lençóis novos. Um dia, quando o seu servo estava prestes a mudar a roupa de cama, o rei disse-lhe: "Aaj Rakh" ("mantem-na hoje"). Era um bonito lençol impresso à mão com carimbos de madeira (blockprint ) que veio a ser referido como Ajrakh, o magnífico tecido de Sindh e de Kutch (Gujarat, Índia).
Nos dias de hoje, para os estampadores de Kutch, Ajrakh significa "mantém hoje". Esta palavra também pode estar ligada a Azrakh, o que significa "azul " em árabe, uma vez que o Indigo é uma das principais cores neste têxtil; ou mesmo para a palavra sânscrita A-jharat, que significa "que não se desvanece ".
No século XVI, o Ajrakh foi trazido para Dhamadka (Kutch), uma aldeia perto do Rio Saran, de água salina - boa para o tingimento de panos Ajrakh. O leito do rio era também uma boa fonte de alumén natural, um ingrediente crucial para o tingimento de tecido.
Na década de 1940, as cores químicas brilhantes e os tecidos sintéticos lotaram os mercados, colocando a estampagem Ajrakh em "modo pausa". Nos anos 60, esta técnica artesanal re-nasceu graças aos artesãos locais e aos esforços de certos investidores.
OS MESTRES DE AJRAKH: A COMUNIDADE KHATRI
Antes do devastador terramoto que atingiu Gujarat em 2001, a comunidade Khatri praticava a estampagem Ajrakh na aldeia de Dhamadka, no distrito de Kutch. Organizações governamentais e não-governamentais relocalizaram, então, os artesãos para a aldeia relativamente nova de Ajrakhpur, fundada em comemoração da impressão Ajrakh e seus mestres artesãos. A comunidade Khatri não é apenas conhecida pelo seu domínio de estampagem Ajrakh em Gujarat, mas também por outras técnicas têxteis tradicionais, como o Bandhani.
No entanto, foram as famílias Khatri residentes em Ajrakhpur, que se tornaram conhecidas por se sobressair na estampagem Ajrakh e que, hoje, continuam as técnicas tradicionais de seus antepassados. Nos últimos tempos, os produtores mestres de Ajrakh, da comunidade Khatri , têm instruído os membros da comunidade muçulmana Harijan na produção de tecidos estampados Ajrakh. Isto assegura, assim, que esta técnica não desapareça no futuro. Demonstra também a versatilidade dos artesãos tradicionais indianos assim como a integração das técnicas têxteis tradicionais na moda contemporânea.
Numerosas iniciativas governamentais e não-governamentais continuam a contribuir para a conservação e subsistência das tradições da estampagem Ajrakh, e do estilo de vida dos seus artesãos.
A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA
A qualidade da água desempenha um papel vital em todo o processo de Ajrakh. O grande terramoto de Bhuj, em 2001, trouxe mudanças ambientais: o teor de ferro da água do Rio Saran aumentou, tornando-o inadequado para a técnica.
Metade dos artesãos de Dhamadka decidiu mudar-se para uma nova aldeia e deu-lhe o nome de Ajrakhpur - um exemplo de reconstrução de vidas a partir do zero. Na aldeia, foi construído um sistema de captação de águas pluviais, indicando que a sustentabilidade era uma consideração importante no planeamento da povoação.
PADRÅES ISLÂMICOS DE CORES NATURAIS
Em Kutch, os Rabaris, os Maldharis e os Ahirs são Pastoralis nómadas e comunidades agrïcolas que usam turbantes, estolas, "llunguis", etc., com estampagens Ajrakh. Os padrões são de uma geometria complexa e tradicionalmente inspirada nas formas da arquitetura islâmica.
As cores de Ajrakh são permanentes, uniformes - após um trabalho longo, hábil e de alta concentração, onde o pano é lavado, tingido, estampado e seco num processo de 16 passos - e todas resultantes de recursos naturais, tais como: sementes de romã, goma, pó de harde, madeira, farinha de kachika , flor de dhavadi, alizarine e Indigo cultivado localmente. O açucar mascavado e a grama de trigo são usados para os designs pretos; alumén e tamarindo para os vermelhos.
A cor principal, o azul, simboliza o céu, o vermelho simboliza o crepúsculo, o preto representa a noite, as formas geométricas e motivos brancos são como estrelas numa noite escura.